O relutante fundamentalista


Há filmes que são preciosidades. Muitos deles, tornam-se atemporais, pois abordam o ser humano em sua inegável capacidade de ser benevolente, assim como cruel. Há também aqueles que são brilhantes em sua abordagem, que nos levam a olhar para grandes tragédias como que observando cada criminoso, cada vítima. Há uma proximidade que nos leva a observar com mais intimidade nosso próprio comportamento.

O Relutante Fundamentalista (The Reluctant Fundamentalist) é um desses filmes que nos inquieta e nos leva a uma jornada interior. Parte de um ato terrorista, com milhares de vítimas, e aporta na vida de um único personagem, alguém que sofre as consequências de tal ato, o que se mostra revelador, apontando um comportamento que tendemos a trazer para a vida de cidadão comum.


O filme é pontuado pelo momento em que o professor paquistanês Changez (Riz Ahmed) aceita conceder uma entrevista ao jornalista americano radicado no Paquistão, Bobby Lincoln (Liev Schreiber), sobre a época em que estudou nos Estados Unidos e se tornou um ilustre analista financeiro em Wall Street, sua volta a Lahore e o momento atual, quando sua família sofre ameaças constantes.


Trata-se de um “antes e depois” do paquistanês. A ideia de focar em um personagem para ilustrar a situação dos muçulmanos que viviam nos Estados Unidos, após o 11 de setembro, oferece intimidade que permite ao espectador se colocar no lugar dele. Porém, O Relutante Fundamentalista não trata somente de um lado das partes envolvidas em tal episódio. O filme demonstra que, em tempos de terrorismo, a verdade nem sempre tem espaço, o que é triste e se reflete no nosso cotidiano.

O sonho de Changez era ser quem se tornou. Apesar de a família insistir pela sua volta ao Paquistão, ele escolheu seguir seu próprio caminho. Então, ser quem se tornou já não importava mais. Vieram os rótulos, as deduções, as detenções. A transformação de Changez, até o momento em que decide voltar para Lahore, acontece pela pressão por ele ser um paquistanês, um muçulmano vivendo em Nova York.

De volta a Lahore, tornou-se um professor querido pelos alunos, e por isso, visto como um líder. Então, um professor americano é sequestrado no Paquistão, e as suspeitas caem sobre Changez.


A entrevista, o que Lincoln traz para esse encontro, a série de armadilhas para a compreensão de um a respeito do outro, mostram O Relutante Fundamentalista como um filme sobre a fragilidade humana diante das tragédias. Sobre como o ódio entre os de díspares culturas pode engolir até mesmo aqueles que ainda querem, precisam e acreditam na verdade.

O Relutante Fundamentalista  é uma coprodução entre EUA, Inglaterra e Qatar. Baseado no livro do paquistanês Mohsin Hamid, dirigido pela indiana, radicada nos Estados Unidos, Mira Nair, foi lançado em 2012. Também conta com as participações de Kiefer Sutherland e Kate Hudson no elenco.

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NOTA
Encontrei pela internet sites, artigos e imagens promocionais que trazem o título em português do filme como O FUNDAMENTALISTA RELUTANTE. Este é o título do livro de Hamid. O título do filme é O RELUTANTE FUNDAMENTALISTA, como consta no site da distribuidora [clique aqui e confira] e você pode tirar a dúvida conferindo ambos, filme e livro, clicando aqui.



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