Sem retorno | Quantas pessoas você quer ser para viver para sempre?




Ele não passou pelas salas de cinema do Brasil, o que podemos lamentar. No começo de dezembro, foi incluído no catálogo do Netflix. 

Entre tantos filmes dispensáveis que estreiam todo ano, Sem Retorno (Self/less - 2015) merecia as salas de cinema. Melhor... Aqueles que ainda vivem sem o Netflix poderiam conhecê-lo.

O filme conta com uma boa trama, cenas de ação, o mocinho e o bandido que acredita que é mocinho. Ainda assim, nada disso seria suficiente sem a competência dos atores, da direção e um bom roteiro para contar uma história que muitos já contaram, mas de outra forma.

Sem Retorno | Ben Kingsley (Damian)

Ben Kingsley é dos meus atores preferidos. Ele participa apenas de uma parte do filme, ainda assim, sua presença é marcante. Ryan Reynolds já provou que é talentoso e competente, não importa o estilo de filme. O britânico Matthew Goode vem participando de algumas séries que das quais eu gosto muito, interpretando Stanley Mitchell em Dancing on the Edge, Finn Polmar em The Good Wife e Henry Talbot em Downton Abbey.

Sem Retorno | Matthew Goode (Dr. Albright)


Damian (Ben Kingsley) sofre de câncer terminal. Homem poderoso, que passou a vida ignorando as realizações da filha, sempre centrado nas conquistas e no poder. Ao encarar a morte, decide optar por um tratamento médico que lhe tiraria o direito à identidade, mas lhe daria muitos anos de vida, como outra pessoa... Em outro corpo. O Dr. Albright (Matthew Goode) é o cientista que lhe oferece o milagre. Ele garante que os corpos para os quais os pacientes são transferidos foram cultivados em laboratório. Após a “migração” de Damian para seu novo corpo, ele descobre que, na verdade, seu novo e saudável corpo pertencia a um militar, pai de família, que o vendeu para pagar o tratamento da filha.


Sem Retorno | Ryan Reynolds (Damian)

Ryan Reynolds está ótimo como o jovem Damian habitando o corpo do militar.

A grande questão do filme é que não sabemos até onde uma pessoa pode chegar para provar que está certa ou para ganhar dinheiro e conquistar um poder inacessível à maioria de nós. No caso do cientista, seu corpo já não correspondia mais a sua mente. O corpo estava doente e então ele colocou suas pesquisas para funcionarem. Dr. Albright foi um corpo e uma identidade que ele roubou por acreditar que mentes como a dele, geniais, mereciam viver o máximo. Esse descarte do outro é o que pesa no filme. É possível compreender que, a partir do momento que nossas escolhas ultrapassam a lógica, é preciso pensar em quem  mais estamos levando junto.

A direção de Sem Retorno me ganhou. Até então, não sabia quem era o diretor, tampouco que ele havia dirigido dois dos filmes que mais me encantaram nesse quesito e no de fotografia: Dublê de Anjo (The Fall/2006) – e vou sempre mencionar que não gosto nada desse título em português – e A Cela (The Cell/2000). Mais um de Tarsem Singh para o hall dos meus preferidos.

O roteiro de Sem Retorno é assinado pelos irmãos espanhóis David e Àlex Pastor.

Sem Retorno é um bom filme, com interpretações competentes e uma trama que fisga o espectador. Vale a pena assistir ao filme, o que certamente o levará a refletir sobre como somos frágeis diante do que gênios e poderosos podem fazer quando desfalcados de qualquer consideração a outro ser humano. Essa não é uma combinação que traz bons frutos.


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